O projeto MCMN propõe um diálogo possível entre o pintor argentino Florencio Molina Campos e o artista húngaro László Moholy-Nagy. Na primeira metade do século XX, em Buenos Aires, Molina Campos conseguiu uma distribuição massiva de sua obra graças à reprodução industrial que a empresa calçadista Alpargatas utilizava para fins publicitários.

Molina Campos faleceu em 1959 e, conforme estabelece a legislação argentina (e de muitos outros países), os direitos de reprodução de suas imagens passam automaticamente para seus herdeiros pelos setenta anos seguintes. Depois disso (ou seja, a partir de 2029) as imagens passarão a ser de domínio público.

Hoje, para reproduzir legalmente uma obra de Molina Campos, seria necessário solicitar autorização ao seu neto e à sua fundação, e pagar a taxa correspondente. Porém, é mais que comum encontrar pessoas vendendo estampas com essas imagens em muitas feiras ou mercados da Argentina.

O projeto MCMN propõe utilizar o mesmo método desenhado pelo artista Moholy-Nagy para enviar por telefone as informações necessárias à reprodução de sua obra. O software analisa uma foto digital de uma pintura de Molina Campos, produzindo uma sequência de sons para cada pixel. Sons que podem ser enviados por telefone. Uma pessoa poderia capturar esse som e gerar uma imagem digital em que cada um dos pixels fosse igual ao número ditado pelo software. A imagem que essa pessoa criaria (não uma reprodução, mas uma nova imagem) seria idêntica à obra de Molina Campos, e não estaria cometendo qualquer violação à Lei de Propriedade Intelectual. A obra escolhida para esta análise é “Ah! Tiempos!”, de 1933. Nesse mesmo ano, foi aprovada na Argentina a Lei de Propriedade Intelectual que deu origem a este projeto. Três anos depois, em 1936, Benjamin publicou A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Até hoje, o facto de os direitos de reprodução serem privados mostra-nos que o debate ainda está aberto (mesmo imerso na digitalização).